Critérios teológicos para a compreensão do Livro

Postado dia 26/09/2016

 

 

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                Creem alguns que o Movimento Sacerdotal Mariano se identifica com o livro “Nossa Senhora aos Sacerdotes, seus filhos prediletos”, isto é, que o livro e o Movimento sejam uma só coisa.

É um erro. O MSM é na realidade, distinto do livro. O Movimento é Obra de Nossa Senhora e consiste essencialmente no chamado que Ela faz aos Sacerdotes para se consagrarem ao seu Coração Imaculado e viverem com uma grande unidade ao Papa e à Igreja e orientando os fieis a uma renovada devoção mariana.

O enunciado dos pontos característicos do Movimento como se vê, é muito simples e, quando alguém vive essas características, pertence ao Movimento, mesmo que, por hipótese, jamais tivesse conhecido o livro.

Neste sentido, o Movimento Sacerdotal Mariano é destino do livro. Mas, quando alguém começa seriamente a viver esses compromissos, sente naturalmente necessidade de interrogar-se: Como devo vivê-los? Quem me dá segurança de que os vivo? Que caminho devo percorrer?

A essas perguntas, o Livro responde, porque ele traça o itinerário que se deve seguir para viver concretamente a consagração ao Coração Imaculado de Maria. Pode, então, o MSM prescindir do Livro? Em teoria, sim, mas na prática, absolutamente não.

De fato, como o Movimento é obra de Nossa Senhora, Ela mesma escolheu o livro como instrumento indispensável para a sua difusão e uma genuína compreensão do seu espírito.

“Também o livro é só um meio para a difusão do meu Movimento. Um meio importante, que escolhi por ser pequeno. Ele servirá para dar a conhecer a muitos esta minha Obra de amor entre os meus Sacerdotes” (24 junho 74).

Agora me parece útil deter-me um pouco a esclarecer a origem e a forma literária do livro, seus valores e seus limites, traçando sobretudo, alguns critérios de sã teologia, necessários para a sua exata compreensão.

Nesta pesquisa, valemo-nos das nossas Circulares 16 e 18 do Pe. Stefano Gobbi e particularmente da primeira parte desta introdução.

 

  1. a)      Origem e forma do Livro

A partir de junho de 1973, Pe. Stefano Gobbi começara a anotar alguns pequenos pensamentos límpidos e fortes, que lhe nasciam na alma. Em obediência ao Diretor Espiritual, pensou-se em recolhê-los num Opúsculo e poucas páginas e conseguiu-se, desse modo, a primeira edição que foi apresentada no Encontro dos Sacerdotes do Movimento, no fim de setembro do mesmo ano.

A acolhida do opúsculo, entretanto, foi bastante negativa. Porque esta recusa, uma vez que se julgava o conteúdo em perfeita consonância com tudo o que, na oração e nos colóquios, tínhamos intuído, como sendo o caminho do Movimento Sacerdotal Mariano? Pelas mesmas razões que o livro, ainda hoje, encontra dificuldade em ser aceito por muitos.

– Antes de tudo, porque lhe faltava a aprovação eclesiástica. Esta não foi pedida, tratando-se de uma pequena publicação pró-manuscrito, sem fins comerciais e mesmo porque os escritos deste gênero são dispensadas por força do “motu próprio” do Papa VI, de 10 de outubro de 1966.

– Depois, pela forma literária com que se apresentava. A orientação espiritual do Movimento era indicada como sendo traçada por Nossa Senhora mesma, através de um fenômeno místico chamado “Locução interior”, que, costumeiramente, não é do agrado dos Padres.

– Porque com tantas mensagens que hoje circulam, sobre as quais é lícito pensar que uma parte seja de origem patológica e a outra de discutível autenticidade, temia-se que, apresentando o livro sob esta forma, que estaria sujeito a encontrar pelo caminho obstáculos insuperáveis e graves dificuldades, sobretudo da parte das autoridades eclesiásticas.

Esta perplexidade, porém, foi gradualmente superada por uma aceitação sempre maior da parte dos Sacerdotes, Religiosos e fieis e multiplicaram-se, em toda a parte, suas traduções nas principais línguas conhecidas.

Ouvia-se de todos, primeiramente com certa surpresa e depois, com profunda alegria de alma, que esse era um meio muito pobre e pequeno, mas escolhido por Nossa Senhora para a difusão do Movimento em todas as partes do mundo.

Realmente, o livro é um instrumento humanamente muito limitado, do qual a Mãe Celeste quis servir-se para atrair os Sacerdotes e os fieis a eles confiados. Uma vez atraídos a seu Coração Materno, Sacerdotes e fieis serão por Ela introduzidos na intimidade do Coração de Jesus, para viverem no coração da Igreja, seu Corpo Místico.

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                Tomando-se nas mãos este livro, com respeito, e meditando-o com simplicidade de coração, percebe-se que se escuta uma palavra vive, doce como o mel e cortante como uma espada.

Nele se propõe e na vida da Igreja, através de luzeiros como S. João Evangelista, S. Francisco de Assis, S. Francisco de Sales, S. Luís Grignion de Monfort, S. João Bosco, S. Terezinha de Lisieux e S. Maximiliano Kolbe.

Somente quando a pomos em prática é que podemos verificar o seu valor, pois, pelos frutos, se conhecerá a qualidade da árvore.

O livro não é organizado em capítulos definidos e concatenados. O próprio Movimento Sacerdotal Mariano é melhor compreendido nas suas exigências e riquezas, à medida que Nossa Senhora o torna conhecido, através dos escritos do Pe. Stefano Gobbi. Ela mesma delineia, difunde e implanta o MSM de modo tão discreto quanto grandioso e isso em todas as partes do mundo.

 

  1. b)      Valores e limitações do Livro

Os valores e limitações do livro derivam do fato de ser ele um simples, mas precioso instrumento para o Movimento Sacerdotal Mariano.

 

  1. É um meio precioso para uma difusão.

 

O MSM já está difundido em toda a parte e sempre através do livro. Foi espontaneamente traduzido nas principais línguas e, assim, ofereceu aos Sacerdotes a possibilidade de conhecerem o urgente convite de Nossa Senhora a se consagrarem ao seu Coração Imaculado.

De todos os Continentes, os Sacerdotes, atraídos por seu convite materno, responderam com a sua adesão ao Movimento; confiaram-se a Maria, começaram a reunir-se em Cenáculos, de tal modo que a Obra de Nossa Senhora conseguiu difundir-se por toda parte, atingindo até mesmo as regiões mais remotas e longínquas da terra.

Quando o Pe. Stefano Gobbi chega aos lugares mais desconhecidos, a fim de participar dos Cenáculos, encontra, com agradável surpresa, o Movimento já propagado, reconhecendo, logo, que o meio para tal difusão foi sempre o livro.

O livro, portanto, cumpre de maneira maravilhosa, a missão de tornar conhecido por toda parte o Movimento Sacerdotal Mariano.

 

  1. É um meio precioso para a compreensão do seu espírito.

 

A meditação de tudo o que está contido no livro, muitas vezes consegue operar verdadeiras transformações nas almas. Ajuda a viver o espírito da consagração; e frequentemente deixa aos Sacerdotes a impressão de responder até mesmo às suas necessidades particulares, animando-os a superarem circunstâncias difíceis e levando-os, gradualmente, a fazer todas as coisas com Maria, por Maria e em Maria.

Os milhares de cartas de adesão, enviadas pelos Sacerdotes aos vários Centros Nacionais, são testemunhas desta realidade.

Para confirmar, menciono alguns trechos de três cartas de Sacerdotes recebidas. De um Sacerdote italiano: “Tenho em mãos o livro, que meu falecido Bispo me fez conhecer. Ele o lia habitualmente; tinha-o sempre nas mãos e, quando seus olhos começaram a perder a força, era eu quem lia para ele algumas páginas. Então, deleitava-se, encontrando muita utilidade para o seu espírito e haurindo alegria e fervor”.

De um Missionário do Brasil: “O meu medo é de ficar parado, não avançar. E tenho tantos motivos para isto. São as tentações que, ora outra, formam o meu alimento de cada dia. Mas, meditando o livro, renovo o meu ato de abandono ao Coração Imaculado de Maria e, pouco a pouco, renasce a confiança. Como desejaria viver a consciência de ser propriedade de Maria!”.

Um país da América Central: “Sou um Sacerdote reduzido ao estado laical, há 14 anos; possuído por grave crise de Fé e de moral, deixei de rezar. Sou professor numa grande Universidade. Caiu-me nas mãos o seu livro, mas por muitos meses não o li, crendo se tratar  de uma devoção comum mariana. Finalmente, senti o desejo de abri-lo e não sei o que se passou comigo. Desde a primeira página, se me acendeu o desejo de ler mais, senti o fervor e renovado amor a Jesus e à Igreja. Recordei-me do que havia aprendido no Seminário: ‘A Jesus por Maria’. Preparei-me durante todo o mês de novembro e, a 8 de dezembro, fiz a minha consagração ao Imaculado Coração de Maria”.

Valor inegável do livro é a sua contribuição para a difusão e compreensão do espírito do Movimento Sacerdotal Mariano.

  1. As limitações do Livro.

 

As limitações do livro são evidentes: é um instrumento, inegavelmente pobre e pequeno.

Esta pobreza e pequenez revelam-se de diversos modos.

               Primeiramente pela forma: ele se apresenta sob a forma de locução interior e isso pode constituir para muitos uma dificuldade à sua aceitação. Mas, da parte de quem? Em geral, da parte aqueles que tendem a rejeitar qualquer forma de intervenção sobrenatural, porque aceitam somente o que passa pelo seu próprio juízo racional.

Podem ser boas pessoas, preparadas, cultas, mas grande demais e, assim, se escandalizam diante da extrema pequenez desse instrumento.

               Mesmo no conteúdo o livro mostra sua pequenez.

Não é um tratado de teologia nem de mariologia e não se apresenta como um compêndio de devoção mariana.

   Nem mesmo desenvolve, de modo sistemático, as razões bíblicas e teológicas em favor da experiência espiritual da consagração a Maria, e que, no entanto, são de notável peso e valor, como se comprova pelo Tratado sobre a verdadeira devoção, de Monfort.

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                Expõe, em linguagem muito simples, o que a Mãe Celeste deseja hoje dos Sacerdotes, seus filhos prediletos. Trata-se de páginas escolhidas de um diário, cujo conteúdo corresponde à Doutrina revelada e ao Ensinamento da Igreja. Tem o sabor de um colóquio entre parecer muito doce em alguns casos e muito áspero em outro. Enquanto certos temas voltam com martelante insistência, outros passam quase ignorados.

Não se está diante de uma obra elaborada em gabinete, onde se desenvolve algo já planejado. Para que a desilusão não leve à rejeição do livro, é necessário ter presente aquilo que cada Sacerdote deve saber, isto é, que para a sua vida interior, para o seu apostolado, para viver em comunhão com toda a Igreja e com o mundo, deve beber nas fontes da Revelação, do Magistério, da sã filosofia, teologia, literatura, ascética e mística.

A base teológica do MSM é, de fato, constituída de toda a doutrina mariana contida na Sagrada Escritura, ilustrada pelos Santos Padres e ensinada pelo Magistério da Igreja. O livro, porém, não quer ser um compêndio de tudo isso, porque já existem na Igreja instituições especializadas para esse fim.

              Nada, porém, é mais contrário à verdade, do que a ideia que alguns fazem dos Sacerdotes membros do MSM, considerando-os como alérgicos à sã ciência teológica ou sentimentais e ingênuos.

Pelo contrário, pode-se serenamente comprovar que, entre os que aderiram ao MSM, encontraram-se Sacerdotes que gozam de particular relevo no setor cultural; uns que ocupam posições de grande responsabilidade, outros entregues a ocupações humildes, cada qual com seus dons e seus defeitos; todos, porém, estão entre as pessoas interiormente mais equilibradas.

       Um Sacerdote da Irlanda observou que se acham no livro, em resumo, toda a doutrina de Montfort  sobre a consagração; e a via da infância espiritual de S. Terezinha do Menino Jesus e a atualização da mensagem de Fátima. Cada um poderá fazer a verificação.

A mim me parece que existe verdadeiramente esta síntese, porque para viver a consagração a Maria, é preciso entregar-se a Ela numa escravidão de amor, a qual se realiza concretamente, vivendo-se como crianças, confiados a seu Coração Imaculado, de modo a deixar-se, com extrema docilidade, nutrir, vestir e conduzir por Ela, a cada instante.

Poderá, ainda, surgir uma pergunta extremamente interessante. Por que Nossa Senhora escolheu um instrumento tão pequeno e limitado?

              “Não compreendeste, filho, que Eu escolhi a ignorância para confundir a sabedoria, a fraqueza para derrubar a força”. (27 setembro 73)

O segredo está todo aqui!

É o mesmo do Evangelho. Jesus não condenou os sábios e doutores, mas agradeceu ao Pai Celeste por lhes haver escondido os mistérios do Reino e havê-los revelado aos pequenos.

Certamente, cada membro MSM tem o dever de ler e meditar tudo o que está no pequeno, mas precioso instrumento do livro, se, de fato, quiser viver o ato de consagração ao Coração Imaculado de Maria e contribuir para a realização de seu materno desígnio de salvação e misericórdia.