Homenagens pedidas pelo Coração de Jesus às famílias ou culto doméstico do Sagrado Coração – Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria

Postado dia 19/01/2018

 

 “  I — Considerações gerais sobre o culto doméstico do Sagrado Coração[1].

Quererá o Sagrado Coração ser honrado no seio das famílias? E por quê?

O Coração de Jesus não se satisfaz com o culto individual: querem também o culto doméstico.

O fim que procura é regenerar as famílias, aonde a vida cristã em nossos dias se vai extinguindo, e onde reinam frequentemente dimensões, insubordinação, liberdade de costumes, amor desordenado das riquezas, do luxo e das comodidades. Por isso se propõe como modelo da vida sobrenatural, de humildade, de mansidão, de caridade e misericórdia, de pureza e de desprendimento.

Que devemos entender por família?

Em primeiro lugar devemos entender as famílias propriamente ditas, cujos membros estão unidos pelos laços do sangue; mas famílias são também todas as sociedades ou associações particulares, quer espirituais, quer temporais, cujas homenagens o Sagrado Coração quer receber.

O Sagrado Coração não pede de um modo especial as homenagens das associações religiosas?

Sim, pede. Muitas vezes Santa Margarida Maria  nos mostra o Coração de Jesus mendigando, por assim dizer, as homenagens das pessoas que lhe são consagradas,e queixando-se da indiferença delas:

Não recebo da maior parte dos homens senão ingratidão lhe dizia ele um dia; e o que mais me custa é ver que o meu povo escolhido, que eu tinha destinado para aplacar a minha justiça, me persegue secretamente.

Nosso Senhor não manifestou o desejo particular de receber homenagens das classes elevadas?

Nosso Senhor deseja ardentemente reinar em todas as casas; contudo declarou a Santa Margarida que quer que a devoção ao Sagrado Coração se propague nos palácios dos ricos para aí ser honrado e amado em compensação dos ultrajes que neles recebeu durante a Paixão.

Qual será a razão de tal pedido?

Em primeiro lugar para que o exemplo dos grandes da terra atraia ao seu amor a classe popular, naturalmente inclinada a imitar os que lhe são superiores na escala social. E em segundo lugar, para acabar com a medonha discórdia, que divide a sociedade em dois campos inimigos: o das classes superiores e o das inferiores. A reconciliação do rico com o pobre, do patrão com o operário, do povo com os governos, não se fará senão pelo Sagrado Coração; o seu amor deve ser o laço da paz. No Coração de Jesus está a solução de todas as questões sociais.

Em que consiste o culto doméstico?

O culto doméstico é constituído por duas homenagens principais: a consagração da família e o culto da imagem deste divino Coração. Este culto foi proposto a todos os fiéis, a todas as nações e até a Igreja, mas foi pedido especialmente às famílias.

Em que consiste a Consagração?

A Consagração é a primeira homenagem que as famílias, as comunidades e as associações devem prestar ao Coração de Jesus.

Com este ato reconhece o divino Coração como Rei, que desejam honrar e servir, e como Senhor, a quem desejam obedecer.

A Consagração é uma espécie de contrato entre o Sagrado Coração e uma sociedade; deve, pois fazer-se com certa solenidade em presença da família reunida.

 

II — A imagem do Sagrado Coração.

I — Sua importância, forma simbólica e significação.

 

Que importância tem a imagem do Sagrado Coração?

Segundo as divinas disposições, a imagem do Sagrado Coração deve produzir em nossos dias as maravilhas operadas pela cruz nos primeiros séculos do cristianismo.

Quais são os sinais que nos mostram a importância desta imagem?

Dois sinais há que nos manifestam brilhantemente a excelência da imagem do Sagrado Coração:

1º O cuidado e a solicitude que Nosso Senhor teve em indicar a forma simbólica desta imagem e em mandá-la executar;

2º O ódio encarniçado que o inferno tem a esta imagem. Bem o mostra continuamente nos assaltos terríveis e por vezes sangrentos que move aos que a usam ou propagam; e daí vem o contar ela já um bom número de mártires. Santa Margarida Maria tinha-o previsto: “O demônio, escrevia ela à Madre de Saumaise, teme extraordinariamente que se faça esta imagem, pela glória que deve dar ao Sagrado Coração de Nosso Senhor Jesus Cristo, com a salvação de tantas almas.”

Como deseja Nosso Senhor que se represente o seu Sagrado Coração?

Em diversas aparições, Nosso Senhor indicou a Santa Margarida Maria duas maneiras de representar o seu divino Coração: ou simplesmente um coração ou o coração unido à Pessoa.

“Um dia, conta a Santa, (foi a segunda das grandes aparições) Jesus Cristo, meu divino Mestre, apresentou-se me resplandecente de glória, com as cinco chagas brilhantes como o sol; de toda a santa humanidade saíam vivíssimas chamas, mas sobretudo do peito adorável, que semelhava uma fornalha, o qual abrindo-se, me patenteou o seu amante e amabilíssimo Coração, origem dessas mesmas chamas. A chaga adorável que recebeu na cruz via-se claramente; cercava-o uma coroa de espinhos e encimava-o uma cruz”.

Como vemos, o Coração está unido à Pessoa. A mesma visão repetiu-se com freqüência.

Outras vezes, pelo contrário, aparecia só o Coração: basta referir aqui a visão do dia 2 de julho de 1688, na qual diz a Santa: “vi sobre um trono de chamas o Coração de Jesus com a chaga bem evidente.”

Qual foi a decisão da Igreja com relação a estas duas maneiras de representar o Sagrado Coração?

Em ocasiões diversas aprovaram os Sumos Pontífices esta dupla representação iconográfica do Sagrado Coração.

Leão XIII, na admirável Encíclica Annum sacrum, de 25 de maio de 1899, apresenta à Igreja o segundo modo de representar este adorável Coração, como um novo Labarum, destinado a presidir aos grandes combates dos últimos séculos contra o inferno, e a assegurar a vitória ao exército fiel do divino Rei:

En alterum hodie oblatum oculis auspicatissimum divinissimumque signum!

Qual é este novo sinal, sinal divino e de suprema esperança? É o Coração sacratíssimo de Jesus que, encimado pela cruz, resplandece no meio de chamas com o mais vivo fulgor, responde o Vigário de Jesus Cristo; é nele que havemos de colocar todas as esperanças, a ele havemos de pedir, e dele havemos de esperar a salvação dos homens.

Todavia a Igreja ordena que, sobre os altares à veneração dos fiéis, se não exponha simplesmente o Coração, mas a imagem de Nosso Senhor com o coração bem patente no peito. Além disso, segundo uma declaração da Sagrada Congregação das Indulgências, para que uma imagem ou estátua de Nosso Senhor seja a representação do Sagrado Coração, não basta que a chaga do lado esteja bem visível no peito do Salvador, mas é preciso que se veja o Coração.

Em conseqüência disto, a indulgência de sete anos e sete quarentenas, concedia aos fiéis que fizerem qualquer oração diante duma imagem do Sagrado Coração, exposta num oratório público, não se pode lucrar senão diante duma estátua ou imagem em que o Coração esteja bem visível.

Quais são os emblemas que deve ter a imagem do Sagrado Coração de Jesus?

A Santa indica principalmente três emblemas simbólicos, que devem acompanhar o Coração: uma larga ferida, as chamas e diversos instrumentos e a coroa de espinhos.

Qual é a razão destes emblemas?

Nosso Senhor pedindo esta forma simbólica mostra claramente o desejo que tem de ver as diversas devoções em honra da Paixão, especialmente a devoção à Cruz, unidas à devoção do Sagrado Coração nas chamas da divina caridade, para assim formarem uma só devoção. A devoção do amor do Coração de Jesus sofrendo tanto e tão ultrajado.

Qual é a sua significação simbólica?

Responde Santa Margarida Maria:

O meu divino Salvador significou-me que as chamas simbolizam a abundância dos tesouros, cujo manancial se encontra no seu Coração, e que os instrumentos da Paixão, que o circundam, significam que o amor imenso deste divino Coração para com os homens foi a causa de todos os sofrimentos e amarguras que por nós quis sofrer.

II —CULTO PARTICULAR DA IMAGEM DO SAGRADO CORAÇÃO

Qual é a primeira homenagem particular que se há-de prestar ao Sagrado Coração?

Esta homenagem consiste em colocar com devoção no próprio quarto a sua imagem. “Tende sempre diante de vós alguma imagem do Coração de Jesus”, diz o P. Froment, contemporâneo da Santa.

Eis os exercícios de piedade em que vos podeis ocupar santamente diante desta imagem:

1º Lançai muitas vezes os olhos sobre ela, para que vos lembreis do amor infinito em que esse divino Coração sempre ardeu por vós, e para vos animardes a renovar a consagração que de vós lhe fizeste.

2º Ajoelhai-vos muitas vezes, diante dessa imagem, e pedi a N. S. que vos dê o seu divino Coração e o seu amor.

3º Ao olhar para o divino Coração trazei à memória os benefícios que dele tendes recebido.

4º Outras vezes recordai as ingratidões do vosso coração para com o Coração tão benfazejo de Jesus Cristo.

5º Pensai também algumas vezes que aquele Coração, sendo amabilíssimo, é, contudo muito pouco amado.

6º Vendo esta imagem, pensai nas disposições do vosso coração, e vede se não há nele alguma coisa que desagrade a esse Coração divino. Vede também o que vos falta para serdes semelhantes a este Coração infinitamente santo.

7º Ao contemplar a chaga adorável do Sagrado Coração, pensai que Jesus vos convida a entrar nele, por aquela abertura, e a fixar ali a vossa morada.

8º Quando passardes diante desta imagem faça algum ato de adoração, de reconhecimento, de súplica, de reparação ou de amor.

9º Enfim, beijai algumas vezes com devoção o Coração que ali vedes, para mostrardes o respeito e ternura com que poríeis os lábios no lado sacrossanto de Jesus, se por felicidade vos pudésseis aproximar dele.

Santa Margarida Maria tinha colocado uma imagem do Sagrado Coração na sua mesa de trabalho: era diante deste terníssimo símbolo do amor divino que ela, quase sempre de joelhos, escrevia, lia e trabalhava.

As comunidades, os colégios e as associações piedosas têm outro meio de estimular o fervor dos seus membros, usando o costume que a Santa estabeleceu no noviciado de Paray.

“A santa mestra, dizem as contemporâneas, tinha uma imagem pequena do Sagrado Coração, para que as noviças a trouxessem alternadamente. Cada uma delas a trazia ao peito durante todo o dia, devendo esforçar-se em honrá-la dum modo especial, e fazer grande número de atos de virtude para lhe provar o seu amor.

Qual é a segunda homenagem particular, que devemos prestar à imagem do Coração de Jesus?

Esta homenagem consiste em trazê-la ao peito, como escapulário.

Qual é a origem do Escapulário do Sagrado Coração?

Como acima dissemos, foi Nosso Senhor que pediu esta homenagem a Santa Margarida Maria.

O Piedoso costume de trazer a imagem do Sagrado Coração como escapulário não foi conhecido ao princípio senão nas casas da Visitação. Foi a digna êmula da serva de Deus, a Venerável Ana Madalena Rémuzat, da Visitação de Marselha, que a tornou conhecida fora do claustro. Em 1720 ela conheceu, por uma revelação, que uma grande peste estava prestes a cair em Marselha, e que os feridos achariam socorro maravilhoso na devoção ao Sagrado Coração de Jesus. A santa religiosa com auxílio de suas irmãs fez milhares de escapulários do Sagrado Coração, nos quais se liam estas palavras duma confiança admirável: Alto! O Coração de Jesus está comigo! A história diz que muitas vezes o flagelo parou como por milagre diante desta imagem protetora. Desde então começou a espalhar-se o uso deste escapulário por muitos países. Em 1748 o Papa Bento XIV enviou alguns destes escapulários à piedosa rainha de França, Maria Leczinska. No tempo da Revolução Francesa grande número de fiéis se colocou debaixo da proteção do Coração de Jesus, trazendo a sua imagem ao peito.

Teve esta santa imagem os seus mártires e não poucos. Dezesseis religiosas carmelitas de Compiègne, João Bénard, sacerdote de Rennes, o P. Lenfant, S. J. , a Irmã Maria Colin, da Visitação de Besancon, a Irmã, Catarina Joussement, o senhor de La Biliais, sua esposa e duas filhas, de Nantes, Vitória de S. Lucas, de Quimper, e muitos outros foram condenados a subir ao cadafalso em 1793, por trazerem consigo, ou propagarem o que os seus acusadores chamavam a libré do fanatismo. Entre os documentos de acusação apresentados nos tribunais para se conseguir a condenação der Maria Antonieta, da princesa Isabel, da princesa de Lamballe, da condessa de Saisseval, da condessa de Carcado e de outras pessoas detidas na prisão dos carmelitas, apareceram os escapulários do Sagrado Coração. Devemos mencionar ainda as numerosas vítimas imoladas em Nantes, em Nossa Senhora des Lucs, na Vandêa. O exercito Vandeano chegou até a escolher esta imagem como divisa; generais e soldados traziam-na ostensivamente ao peito.

Para animar este piedoso costume, Pio IX concedeu a 28 de março de 1873 cem dias de indulgência a todos os que, revestidos desta insígnia, rezar um P. Nosso, Ave e Glória.

Tratava-se, porém duma simples imagem trazida ao peito e não do escapulário propriamente dito.

Qual é a origem do Escapulário propriamente dito?

Segundo uma narração aprovada pelo Ordinário do Bourges, a SS.º Virgem apareceu em Pellevoisin no ano de 1876, trazendo na mão um escapulário, onde estava bordada a imagem do Sagrado Coração, e disse: “Gosto desta devoção! Nada me será tão agradável como ver esta divisa nos meus filhos.”

Tal é a origem do escapulário do Sagrado Coração e da Mãe de misericórdia, como se propagou entre os fiéis.

A Sagrada Congregação dos Ritos aprovou-o em 4 de abril de 1900, com duas leves modificações e Leão XIII enriqueceu-o de indulgências.

Qual é a forma deste Escapulário?

O Escapulário do Sagrado Coração compõe-se de dois quadrados de lã branca unidos por dois cordões; um dos quadrados tem a imagem do Sagrado Coração de Jesus ( somente o Coração, sem inscrição alguma); o outro, a imagem da SS.º Virgem com a inscrição: Mãe de Misericórdia: Máter Misericordice; e nenhuma outra se pode pôr na imagem.

Qual é o fim deste Escapulário?

Unir no mesmo emblema as duas grandes devoções dos nossos tempos; a do Coração de Jesus, em que havemos de colocar todas as nossas esperanças, segundo as palavras de Leão XIII e a da SS.º Virgem, com um dos títulos mais próprios para inspirar confiança.

Qual é a sua eficácia?

É a de um escudo: colocar o nosso coração entre o Coração de Maria e o Coração de Jesus. Sob esta dupla proteção, que poderemos temer?

É a de um memorial. Recorda-nos o amor de Nosso Senhor para conosco, e a misericordiosa bondade de Maria para com os pecadores.

É a de um manancial de graças. Nosso Senhor prometeu “derramar com abundância no coração de todos os que honrarem a imagem do seu Sagrado Coração os dons de que está cheio”. E Maria disse: “grandes favores serão concedidos áqueles que trouxerem este escapulário, e se esforçarem em o propagar.”

Quais são as condições necessárias para participar dos privilégios concedidos pela Santa Sé a este escapulário?

É preciso: 1º ter um escapulário com a forma acima indicada; 2º recebê-lo das mãos dum sacerdote devidamente autorizado; 3º trazê-lo habitualmente.

Quais são as indulgências concedidas ao escapulário do Sagrado Coração?

I Indulgências plenárias. a) No dia da recepção (confessando-se e comungando).

  1. b) Em artigo de morte.
  2. c) Nas seguintes festas: Natividade, Circuncisão, Epifania, Ressurreição e Ascensão de Nosso Senhor; Corpo de Deus e festa do Sagrado Coração; Conceição, Natividade, Anunciação, Purificação, Assunção da SS.º Virgem e na festa de Maria Mãe de misericórdia (confessando-se, comungando e visitando uma igreja, desde as primeiras vésperas até ao pôr do sol, e orando segundo as intenções do Sumo Pontífice).

II Indulgências parciais. a) Sete anos e sete quarentenas, em todas as festas secundárias de Nosso Senhor e de Nossa Senhora (visitando uma igreja e orando pelas intenções mencionadas).

As festas secundárias são: A festa do Sagrado Coração, do SS. Nome de Jesus, da Invenção da Santa Cruz, das Dores de Nossa Senhora (as duas festas), do Carmo, do SS. Nome de Maria, de N. Senhora das Mercês e da Apresentação.

  1. b) 200 dias, uma vez por dia, rezando o Padre Nosso, Ave e Glória, ou a invocação: “Maria, Mater gratice, Mater Misericordice, tu nos ab hoste protege, et mortis hora suscipe.” Maria, Mãe de Graça, Mãe de Misericórdia, defendei-nos do inimigo, recebei-nos na hora da morte.
  2. c) 60 dias, por cada ato de piedade ou caridade.

III Indulgências das Estações. a) Plenárias: Natal, Quinta-feira Santa, Páscoa, Ascensão; b) trinta anos e trinta quarentenas: Santo Estevão, S. João Evangelista, Santos Inocentes, Circuncisão, Epifania, Septuagésima, Sexagésima, Qüinquagésima, Sexta e Sábado da Semana Santa, todos os dias da oitava da Páscoa, incluindo o domingo de quase-modo, S. Marcos Evangelista, os três dias das Rogações, festa do Pentecostes e todos os dias da oitava até ao Sábado inclusivamente.

  1. c) Vinte e cinco anos e vinte e cinco quarentenas: no domingo de Ramos.
  2. d) Quinze anos e quinze quarentenas: 3º domingo do Advento, Vigília do Natal, Natal (na primeira missa e à missa de alva), quarta-feira de cinza e 4º domingo da quaresma.
  3. e) Dez anos e dez quarentenas: 1º, 2º e 4º domingos do Advento; todos os dias da quaresma não mencionados; a Vigília de Pentecostes; quartas, sextas e sábados das têmporas, exceto as de Pentecostes.

Todas as indulgências são aplicáveis aos defuntos, exceto a indulgência em artigo de morte.

 

III — CULTO DOMESTICO E CULTO PÚBLICO DA IMAGEM DO SAGRADO CORAÇÃO

Em que consiste o culto doméstico da imagem do Sagrado Coração?

O programa deste culto pode resumir-se nas palavras que Nosso Senhor disse a Santa Margarida Maria:

Que a imagem do meu Sagrado Coração seja exposta e venerada. Como vemos, pede que em todas as casas se levante uma espécie de altar ou trono doméstico, para nele se colocar a imagem do Sagrado Coração, juntamente com o crucifixo e as imagens da SS.º Virgem, de S. José e dos principais protetores do lar. Ali verão os membros da família ajoelhar-se para numa oração comum pedirem as bênçãos divinas.

Não basta expor a imagem do Sagrado Coração em um só lugar da casa; Nosso Senhor, falando aos ricos em particular, insinua o desejo que tem de ver a imagem do seu divino Coração nos lugares principais da casa, para que, diz ele, a devoção a este Coração Sagrado se espalhe nos seus palácios.

Porque razão se não há-de colocar esta imagem na porta principal de cada casa para bradar: — alto! O Coração de Jesus está comigo — não somente aos flagelos que matam os corpos, como na peste de Marselha em 1720, mas a tantas epidemias espirituais, que se chamam: livros maus, conversas licenciosas, espírito do mundo, o pecado, enfim, seja qual for o nome com que se apresente, e também ao demônio, que trabalha sem cessar na perda das almas?!

O celebre e piedoso cartuxo Lansperge escrevia a este respeito em 1530: “Aconselho-vos que coloqueis nos lugares em que passais com mais freqüência alguma devota imagem deste Coração adorável, para vos lembrardes de lhe oferecer santos e piedosos exercícios. Podeis até, se vos sentirdes atraídos, beijá-la com ternura, com a mesma devoção, com que beijaríeis o próprio Coração de Jesus Cristo, entrando em espírito nesse Coração divino, imprimindo nele com ardor o vosso próprio coração; engolfando nele toda a vossa alma, desejando que ela seja ali consumida, esforçando-vos por atrair ao vosso coração o espírito que anima ao Coração de Jesus, as suas graças, as suas virtudes, numa palavra, tudo o que há salutar, no Sagrado Coração, o que excede toda a compreensão, porque o Coração de Jesus é a fonte superabundante de todo o bem”.

Em que consiste o culto político da imagem do Sagrado Coração?

O culto público da imagem do Sagrado Coração resume-se nestas palavras de Santa Margarida Maria:

— que seja exposta em público e venerada! Por onde se vê que Nosso Senhor pede para a imagem do seu Sagrado Coração um culto externo e público, semelhante ao culto que se presta ao Crucifixo. Não quero somente que se lhe levantem altares nas igrejas, mas também que o seu Coração se pinte nos estandartes e que se veja no lugar de honra dos edifícios públicos.

Qual seria o fim de Nosso Senhor pedindo para a imagem do seu divino Coração estas homenagens exteriores e públicas?

“O seu fim era comover, por meio deste objeto, o coração insensível dos homens”, disse Santa             Margarida Maria. Na verdade, a vista da imagem do Coração de Jesus dá às famílias e à socieda[2]de quatro importantíssimas lições.

1º O Sagrado Coração quer em primeiro lugar, manifestar o amor de predileção que tem às famílias e aos países que lhe são consagrados, e convidá-los a recorrer a Êle com inteira confiança, em todas as suas necessidades.

2º Em segundo lugar quer ensinar-lhes que o seu amor deve ser a lei soberana pela qual todos os membros devem regular absolutamente os pensamentos, os afetos, as palavras, as leituras e as ações.

3º Quer ainda lembrar aos homens que, assim como o sol dissipa sucessivamente as trevas, assim a imagem ao Sagrado Coração, onde estiver, há-de desterrar daquele lugar tudo o que lhe é oposto, isto é, livros, imagens, estátuas contrárias à moral cristã e, sobretudo o pecado.

4º Finalmente quer persuadir às sociedades que, em testemunho da dedicação que lhe votaram, devem fazer desaparecer o terrível e criminoso respeito humano, que leva a acabar com as manifestações exteriores da fé, e a deitar para um canto as imagens religiosas, dando-se muitas vezes o lugar de honra a objetos, que envergonhariam os próprios pagãos.”

[1] O CORAÇÃO DE JESUS, Segundo a Doutrina de Santa Margarida Maria. Por um oblato de Maria Imaculada, Capelão de Montmartre,Tradução de R. F., Segunda Edição Corrigida, p91/109