Na Idade Média, a devoção ao Sagrado Coração era praticada nos conventos por um número restrito de pessoas, sendo que a partir de São João Eudes (1601-1680), podemos dizer que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus teve sua primeira grande difusão entre o povo cristão. Foi a partir do século XVII que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus tomou a forma que a Igreja até hoje aprova, louva e bendiz[1].
Tendo em vista a dedicação e a devoção de São João Eudes deve-se a inauguração, no seio de sua Congregação em 1645[2], do culto ao Sagrado Coração de Jesus e o primeiro ofício litúrgico em honra do Sagrado Coração de Jesus, cuja festa se celebrou pela primeira vez, com o beneplácito de muitos bispos de França, a 20 de outubro de 1672[3].
O papel deste santo também é destacado por inúmeros outros feitos em favor da devoção[4]: “ evangelista, apóstolo e doutor” da devoção aos sagrados corações de Jesus e Maria. Com S. João Eudes temos: congregações religiosas dedicadas ao culto do coração de Maria e do coração Jesus: as primeiras festas litúrgicas, com ofício e missa próprios; as primeiras obras sistemáticas de história, teologia e piedade, as primeiras confrarias; as primeiras aprovações da Igreja, tanto episcopais quanto pontifícias; as primeiras oposições sérias; a primeira grande difusão da devoção aos sagrados corações entre o povo cristão.”
Entretanto, a devoção ao Sagrado Coração de Jesus tal como hoje é praticada, merece destaque e um lugar todo especial, devido às revelações de Nosso Senhor a Santa Margarida Maria Alacoque, em Paray-le-Monial, na França, religiosa da Visitação de Santa Maria, em fins do século XVII, momento em que apresentou à santa suas promessas.
Nosso Senhor nos mostra a infinidade de seu amor por nós, e de maneira particular a importância da consagração a Ele e contém ainda a determinação de reparar os ultrajes de que Ele é objeto por parte dos homens. Foi a partir do zelo apostólico de Santa Margarida Maria que o culto ao Sagrado Coração de Jesus ganhou grande desenvolvimento, revestido principalmente das características de amor e reparação[5].
No século XVII, a França era sacudida por épocas turbulentas, com crises no campo político, religioso, econômico e social, onde havia uma grande hostilidade à Igreja tendo em vista a perspectiva do pecado, momento em que havia uma dualidade entre os jansenistas, que eram rígidos, puritanos, de coração estreito e mente pequena, amedrontados diante de um Deus severo e castigador, e em contraposição os libertinos da época com sua prática oposta davam à época um aspecto sombrio, marcado pelo pecado, materialismo, descristianização e pagão. Entretanto, em contraposição a esses extremos, o Sagrado Coração de Jesus vem se mostrar em sua infinita misericórdia, bondade e amor por todos nós.
Neste contexto, Santa Margarida Maria Alacoque é escolhida por Deus para revelar ao mundo o Coração de Jesus, preparada desde sua infância e intitulada pelo próprio Sagrado Coração de Jesus como sua esposa, a santa alardeou aos quatro cantos do mundo este coração amoroso, tão ultrajado e maltratado por nossas indiferenças e pecados.
É certo que as revelações com que foi favorecida Santa Margarida Maria Alacoque não acrescentaram nada de novo à doutrina católica, tanto é verdade que a aprovação da festa litúrgica pela Sé Apostólica foram anteriores a aprovação dos escritos de Santa Margarida Maria Alacoque, que foi feita com base nos próprios dogmas católicos e pela insistência dos fiéis, cujo decreto foi aprovado pelo Papa Clemente XIII, em 6 de fevereiro de 1765.
Entretanto, a importância das aparições do Sagrado Coração de Jesus a Santa Margarida Maria Alacoque “consiste em que – ao mostrar o Senhor o seu coração sacratíssimo – de modo extraordinário e singular quis atrair a consideração dos homens para a contemplação e a veneração do amor misericordioso de Deus para com o gênero humano. De fato, mediante manifestação tão excepcional, Jesus Cristo expressamente e repetidas vezes indicou o seu coração como símbolo com que estimular os homens ao conhecimento e à estima do seu amor; e ao mesmo tempo constituiu-o sinal e penhor de misericórdia e de graça para as necessidades da Igreja nos tempos modernos[6].’
Neste mesmo sentido continua o São João Paulo II[7]:
“Aprendamos deste coração o amor a Deus e a compreensão do mistério do pecado –mysterium iniquitatis. Façamos actos reparadores ao Divino Coração pelos pecados cometidos por nós e pelo nosso próximo. Reparemos pela recusa da bondade e do amor de Deus. Aproximemo-nos todos os dias desta fonte de água viva. Invoquemos com a mulher samaritana: «dai-nos desta água», porque ela dá a vida eterna.”
Podemos concluir por este momento que o culto ao Sagrado Coração de Jesus, que brotou espontaneamente da fé viva e da piedade fervorosa das almas prediletas para com a pessoa do Redentor, veio reavivar em nossos corações o amor de Deus para com a humanidade.
O Sagrado coração de Jesus, por meio destas almas
prediletas, veio buscar a conversão de
nossos corações, reavivando o fogo do seu AMOR por nós, para que nos sintamos
tocados no fundo de nossas almas e que possamos contemplar, venerar e reparar este imenso gesto de AMOR
que nos foi feito por Jesus Cristo, em sua encarnação, paixão morte e
ressurreição. A essência do Sagrado Coração de Jesus é seu imenso AMOR por nós.
Nossos corações endurecidos estão necessitados de um amor verdadeiro, que nos
preencha e nos ame sem limites, obscurecido por tantas paixões desordenadas e
ilusões, o Sagrado Coração de Jesus vem nos recordar a essência de nossa
religião cristã, A RELIGIÃO DO AMOR.
[1] OLIVEIRA, Dom Oscar de . SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS. EdItora Dom Viçoso, Mariana 1976. p8
[2] OLIVEIRA, Dom Oscar de Oliveira. Arcebispo de Mariana. Sagrado Coração de Jesus. Editora Dom Viçoso Mariana, 1976. P 88.
[3] ENCICLICA HAURIETIS AQUAS DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII, p 19
[4] MEO, Stefano de Fiores e Salvatore. DICIONÁRIO DE MARIOLOGIA. Editora Paulus. P 328
[5] ENCICLICA HAURIETIS AQUAS DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII, p 19
[6] ENCICLICA HAURIETIS AQUAS DO SUMO PONTÍFICE PAPA PIO XII, p 20
[7]VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA JOÃO PAULO II À POLÔNIA , HOMILIA DO SANTO PADRE NO ENCONTRO DE ORAÇÃO PARA O ACTO DE DEVOÇÃO AO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Elblag, 6 de Junho de 1999, http://www.vatican.va/holy_father/john_paul_ii/homilies/1999/documents/hf_jp-ii_hom_19990606_elblag_po.html , © Copyright 1999 – Libreria Editrice Vaticana