No dia 19 de agosto celebra-se a memória litúrgica de São João Eudes, como afirma o Papa Bento XVI: “apóstolo incansável da devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria, que viveu na França no século XVII, um século caracterizado por fenómenos religiosos contrapostos e também por graves problemas políticos. É o tempo da guerra dos trinta anos, que devastou não apenas uma grande parte da Europa central, mas arrasou também as almas. Enquanto se ia difundindo o desprezo pela fé cristã por parte de algumas correntes de pensamento então predominantes, o Espírito Santo suscitava uma fervorosa renovação espiritual, com personalidades de elevado relevo, como Bérulle, São Vicente de Paulo, São Luís Maria Grignion de Montfort e São João Eudes. Esta grande “escola francesa” de santidade teve entre os seus frutos também São João Maria Vianney. Por um misterioso desígnio da Providência, no dia 31 de Maio de 1925, o meu venerado predecessor Pio XI proclamou santos João Eudes juntamente com o Cura d’Ars, oferecendo à Igreja e ao mundo inteiro dois extraordinários exemplos de santidade sacerdotal”.
Assim, na história da devoção aos Sagrados Corações de Jesus e de Maria. é preciso dar lugar especial a São João Eudes, ume santo «evangelista, apóstolo e doutor» da devoção. A partir de sua atuação temos: “congregações religiosas dedicadas ao culto do coração de Maria e do Coração de Jesus; as primeiras festas litúrgicas, com ofício e missa próprios; as primeiras obras sistemáticas de história, teologia e piedade; as primeiras confrarias; as primeiras aprovações da igreja, tanto episcopais quanto pontifícias; as primeiras oposições sérias; a primeira grande difusão da devoção aos sagrados corações entre o povo cristão”[1].
Nasceu na Normandia, em 1601, num tempo em que o século XVII estava sendo marcado pelo jansenismo, quietismo e filosofismo. Apesar de pertencer a uma família religiosa, João encontrou muitas barreiras com o seu pai quando decidiu-se consagrar a Deus e com 24 anos estava sendo ordenado Sacerdote. Ele era um “homem de Deus, soube colher e promover os frutos do Espírito para a época, tanto assim que foi importantíssimo para a renovação e formação do clero, evangelização das massas rurais e difusão da espiritualidade centrada nos Corações de Jesus e de Maria, a qual venceu com o amor afetivo de Deus as friezas e tentações da época”[2].
O zelo apostólico de São João Eudes voltou-se particularmente para a formação do clero diocesano. Isto porque, o Concílio de Trento, em 1563, tinha emanado normas para formação dos seminários diocesanos e para a formação dos presbíteros, pois havia na época” uma insuficiente formação dos sacerdotes, que não estavam preparados para o sacerdócio de modo justo, intelectual e espiritualmente, no coração e na alma”[3], o que foi prontamente visualizado por São João Eudes.
Diante de sua percepção da “grave necessidade de ajuda espiritual, em que se encontravam as almas inclusive por causa da inadequação de uma boa parte do clero, o santo que era um pároco instituiu uma Congregação dedicada de maneira específica à formação dos sacerdotes”, chamada de Congregação de Jesus e Maria, mais conhecida como Eudistas.
De acordo com Pe. Jean-Michel Amouriaux, cjm[4] , Superior Geral da Ordem dos Eudistas .. “poderíamos preencher páginas para cantar a grandeza deste homem, certamente muito vivo, muito dinâmico, audaz, criativo, e ao mesmo tempo, homem profundamente consciente de que nada pode por si e que deve esperar tudo da mão de seu Senhor. Sabe com plena lucidez que o orgulho é o pior obstáculo para que a graça chegue a si e ao mundo. Às vezes, é atribuído a São João Eudes o uso do termo «aniquilamento». Isto se percebe como um desprezo de si mesmo, mas o exemplo de São João Eudes nos mostra o contrário e esse é o segredo que ele nos quer compartilhar. O aniquilamento é o descentrar-se de si. É libertar-se da ilusão que podemos fazer de nós mesmos, pois encontramos na relação com Deus a realização pessoal que todos buscamos.
O homem mais descentrado de si é Jesus. Seu Coração está total e constantemente voltado ao Pai. Jesus cumpre a vontade do Pai Corde magno et animo volenti, e isso é para nós uma revelação: a aliança com Deus é uma fonte de vida e de forças para levar nossa vida e cumprir nossa vocação como nossa resposta à vontade de Deus. É o que percebemos na vida de São João Eudes: realizou grandes obras porque renunciou à ilusão de seus próprios apoios para encontrar na relação com Jesus e Maria o mais sólido apoio e a força mais eficaz. Renunciar e aderir é a respiração dos batizados. Então, peçamos a São João Eudes que nos acompanhe em nosso caminhar de discípulos missionários; que nos ponha com Ele à escuta da Palavra de Deus, que nos nutra com seus escritos e nele apresentemos simplesmente nossas orações … encontrando efetivamente nele modelos da vida cristã e estando como Ele «fiel operário da vontade de Deus.»
Neste mesmo sentido, o amor de São João Eudes por Nossa Senhora é também um exemplo a ser seguido por nós, principalmente ao Coração de Maria, em que ele o define como …”o seu coração é a fonte e o princípio de todas as grandezas, excelências e prerrogativas com que se adorna, de todas as qualidades eminentes que a elevam acima de todas as criaturas, como o ser filha primogênita do eterno Pai, mãe do Filho, esposa do Espírito Santo e templo da santíssima Trindade… Quer dizer também que esse santíssimo coração é a fonte de todas as graças que acompanham essas qualidades… e quer dizer ainda que esse mesmo coração é a fonte de todas as virtudes que praticou… E por que o seu coração é a fonte de tudo isso? Porque foram a humildade, a pureza, o amor e a caridade do coração que a tornaram digna de ser a mãe de Deus e,como conseqüência, de possuir todos os dotes e todas as prerrogativas que devem acompanhar essa altíssima dignidade»[5].
São João Eudes, rogai por nós!
[1] Dicionário de Mariologia, p
[2] https://santo.cancaonova.com/santo/sao-joao-eudes-fundou-a-congregacao-de-jesus-e-maria/
[3] PAPA BENTO XVI, AUDIÊNCIA GERAL, Quarta-feira, 19 de Agosto de 2009
[4] http://www.cjm-eudistes.org/index.php/pt/o-que-fazemos/ultimas-2020/6657-novena-em-honra-de-sao-joao-eudes
[5] Dicionário de Mariologia, p