“À vossa protecção nos acolhemos, Santa Mãe de Deus”!
Ao pronunciar estas palavras da antífona
com que a Igreja de Cristo
reza há séculos,
encontro-me hoje neste lugar
escolhido por Vós, ó Mãe,
e por Vós especialmente amado.
Estou aqui, unido com todos os Pastores da Igreja
por aquele vínculo particular,
pelo qual constituímos
um corpo e um colégio,
assim como Cristo quis os Apóstolos
em unidade com Pedro.
No vínculo desta unidade,
pronuncio as palavras deste Acto,
no qual desejo incluir, uma vez mais,
as esperanças e as angústias
da Igreja no mundo contemporâneo.
Há quarenta anos atrás,
e depois ainda passados dez anos,
o Vosso servo o Papa Pio XII,
tendo diante dos olhos
as dolorosas experiências da família humana,
confiou e consagrou
ao Vosso Coração Imaculado
todo o mundo
e especialmente os Povos
que eram objecto
particular do vosso amor
e da vossa solicitude.
Este mundo dos homens
e das nações
também eu o tenho diante dos olhos, hoje,
no momento em que desejo renovar
a entrega e a consagração
feita pelo meu Predecessor
na Sé de Pedro:
o mundo do Segundo Milénio
que está prestes a terminar,
o mundo contemporâneo,
o nosso mundo de hoje!
A Igreja,
lembrada das palavras do Senhor:
“Ide… e ensinai todas as nações…
Eis que eu estou convosco todos os dias,
até ao fim do mundo” (Mt 28, 19-20),
no Concílio Vaticano II,
renovou a consciência
da sua missão neste mundo.
Por isso, ó Mãe dos homens e dos povos,
Vós que “conheceis todos os seus sofrimentos
e as suas esperanças”,
Vós que sentis maternamente todas as lutas
entre o bem e o mal,
entre a luz e as trevas,
que abalam o mundo contemporâneo,
acolhei o nosso clamor
que movidos pelo Espírito Santo,
elevamos directamente
ao Vosso Coração,
e abraçai com o amor da Mãe e da Serva
este nosso mundo humano,
que Vos confiamos e consagramos,
cheios de inquietação pela sorte terrena
e eterna dos homens e dos povos.
De modo especial
Vos entregamos e consagramos
aqueles homens e aquelas nações,
que desta entrega e desta consagração
particularmente têm necessidade.
“À Vossa protecção
nos acolhemos Santa Mãe de Deus”!
Não desprezeis as nossas súplicas,
pois nos encontramos na provação!
Não desprezeis!
Acolhei a nossa humilde confiança
e a nossa entrega!
2. “Porque Deus amou de tal modo o mundo
que lhe deu o seu Filho unigénito,
para que todo aquele que n’Ele crer,
não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3, 16).
Precisamente este amor
fez com que o Filho de Deus
se tenha consagrado a si mesmo:
“Eu consagro-me por eles,
para eles serem também consagrados
na verdade” (Ibid. 17, 19).
Em virtude desta consagração,
os discípulos de todos os tempos
são chamados
a empenhar-se pela salvação do mundo,
a ajuntar alguma coisa
aos sofrimentos de Cristo
em benefício do Seu Corpo,
que é a Igreja (Cfr. 2Cor. 12, 15; Col 1, 24).
Diante de Vós,
Mãe de Cristo,
diante de Vosso Coração Imaculado,
desejo eu, hoje,
juntamente com toda a Igreja,
unir-me com o nosso Redentor
nesta sua consagração pelo mundo e pelos homens,
a qual só no seu Coração divino
tem o poder de alcançar o perdão
e de conseguir a reparação.
A força desta consagração
permanece por todos os tempos
e abarca todos os homens,
os povos e as nações,
e supera todo o mal,
que o espírito das trevas
é capaz de despertar
no coração do homem e na sua história,
e que, de facto,
despertou nos nossos tempos.
A esta consagração do nosso Redentor,
mediante o serviço do sucessor de Pedro,
une-se a Igreja, Corpo místico de Cristo.
Oh! quão profundamente
sentimos a necessidade de consagração,
pela humanidade e pelo mundo:
para nosso mundo contemporâneo,
na unidade com o próprio Cristo!
Na realidade, a obra redentora de Cristo
deve ser participada pelo mundo
pela mediação da Igreja.
Oh! quanto nos penaliza,
portanto,
tudo aquilo que na Igreja
e em cada um de nós
se opõe à santidade e à consagração!
Quanto nos penaliza
que o convite à penitência,
à conversão, à oração,
não tenha encontrado aquele acolhimento que devia!
Quanto nos penaliza
que muitos participem
tão friamente
na obra da Redenção de Cristo!
Que tão insuficientemente
se complete na nossa carne
“aquilo que falta aos sofrimentos de Cristo!” (Col 1, 24).
Sejam benditas portanto,
todas as almas
que obedecem à chamada do Amor eterno!
Sejam benditos aqueles que,
dia após dia,
com generosidade inexaurível
acolhem o Vosso convite,
ó Mãe, para fazer aquilo que diz o Vosso Jesus (Cfr. Io 2, 5)
e dão à Igreja e ao mundo
um testemunho sereno de vida inspirada no Evangelho.
Sede bendita,
acima de todas as criaturas,
Vós, Serva do Senhor,
que mais plenamente obedeceis a este Divino apelo!
Sede louvada,
Vós que estais inteiramente unida
à consagração redentora do Vosso Filho!
Mãe da Igreja!
Iluminai o Povo de Deus
nos caminhos da fé, da esperança e da caridade!
Ajudai-nos a viver
com toda a verdade da consagração de Cristo
pela inteira família humana, no mundo contemporâneo.
3. Confiando-Vos, ó Mãe,
o mundo,
todos os homens e todos os povos,
nós Vos confiamos também
a própria consagração em favor do mundo,
depositando-a no Vosso Coração materno.
Oh, Coração Imaculado!
Ajudai-nos a vencer a ameaça do mal
que tão facilmente se enraíza
nos corações dos homens de hoje e que,
nos seus efeitos incomensuráveis,
pesa já sobre a nossa época
e parece fechar os caminhos do futuro!
Da fome e da guerra, livrai-nos!
Da guerra nuclear, de uma autodestruição incalculável e de toda espécie de guerra, livrai-nos!
Dos pecados contra a vida do homem desde os seus primeiros instantes, livrai-nos!
Do ódio e do aviltamento da dignidade dos filhos de Deus, livrai-nos!
De todo o género de injustiça na vida social, nacional e internacional, livrai-nos!
Da facilidade em calcar aos pés os mandamentos de Deus, livrai-nos!
Dos pecados contra o Espírito Santo, livrai-nos, livrai-nos!
Acolhei, ó Mãe de Cristo,
este clamor carregado do sofrimento
de todos os homens!
Carregado do sofrimento de sociedades inteiras!
Que se revele,
uma vez mais, na história do mundo,
a força infinita do Amor misericordioso!
Que ele detenha o mal!
Que ele transforme as consciências!
Que se manifeste para todos,
no Vosso Coração Imaculado,
a luz da Esperança!
Quero dirigir-vos ainda uma oração especial,
ó Mãe que conheceis as ansiedades e as preocupações dos vossos filhos.
Suplico-vos,
em imploração ardente e dorida
que interponhais a vossa intercessão pela paz no mundo,
pela paz entre os povos que,
em diversas partes,
contrastes de interesses nacionais e actos de prepotência injusta
opõem sangrentamente entre si.
Suplico-vos, em particular, que cessem as hostilidades que dividem já, há muitos dias, dois grandes Países nas águas do Atlântico meridional,causando dolorosas perdas de vidas humanas. Fazei com que se encontre finalmente uma solução justa e honrosa entre as duas Partes, não apenas pela controvérsia que as divide e ameaça com consequências imprevisíveis, mas também, e sobretudo para o restabelecimento entre elas da mais digna e mais profunda harmonia, como convém à sua História, à sua civilização e às suas tradições cristãs.
Que em breve a grave e preocupante controvérsia seja superada e concluída, de tal maneira que também se possa realizar felizmente a minha projectada viagem pastoral à Grã-Bretanha, para ser satisfeito não só o meu desejo pessoal, mas também o de todos aqueles que esperam ardentemente esta visita e que com tanto empenho e com todo o coração a têm vindo a preparar.
Fátima, 13 de Maio de 1982[1]