(Apropriado às sextas-feiras, dias de penitência)
INTRODUÇÃO[1]
Escrevendo estas singelas práticas em honra do Preciosíssimo Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo, não tive em mira aumentar o número dos folhetos de devoção.
Pensei no Papa João XXIII, de saudosa memória, que aprovou a Ladainha, do Preciosíssimo Sangue, mandando-a inserir no Ritual Romano. A Festa do Sangue de Cristo é celebrada a 1º de julho e todo esse mês lhe é consagrado.
Ninguém, todavia, ficaria contente em ver restringida tão salutar Devoção a tempo determinado, mês de julho. É porque todos os dias adoramos com fé e Devoção o Sangue de Cristo no Cálice do Sacrifício da Missa. O preço de nosso resgate é infinito e deve estar sempre presente à nossa memória.
A Igreja abrandou o jejum e a abstinência da carne, exortando, porém a que seja substituído tão salutar exercício por pequenas obras de penitência à própria escolha.
Neste folheto são lembradas algumas indústrias que podem orientar as almas fervorosas na prática de certos sacrifícios que custam pouco e consolam muito ao divino Salvador.
Os períodos de penitência, marcados pela Liturgia, são: o tempo do Advento, da Quaresma, das Têmporas e todas as sextas feiras do ano.
É ainda necessário um culto continuado de reparação ao Preciosíssimo Sangue, porque não faltam cristãos que se esqueçam do quanto custou ao divino Salvador o preço de nossa redenção.
A água e o sangue emanado da chaga do lado de Cristo na sua crucifixão é considerado pelos santos Padres e teólogos como fonte perene que corre do alto da Cruz através da Igreja, nos sacramentos do Batismo e da Eucaristia.
A todos atinge, porque foi derramado por todos. Sua finalidade é purificar e santificar as almas sedentas de salvação, aplicando-lhes em medida cada vez mais rica, a graça da redenção, até que esteja consumada a sua transfiguração em Cristo, ao menos, na hora da morte. O Cântico da Pós-Comunhão da Missa do Preciosíssimo Sangue nos exorta, em virtude do Sangue de Cristo, recebido na Missa como penhor de redenção, a estarmos preparados para a sua vinda, no fim dos tempos. “Assim Cristo, depois de se ter oferecido uma só vez para tirar os pecados de muitos, aparecerá, segunda vez, não mais para expiar o pecado, mas para dar a salvação aos que O esperam” (Hebr. 9,28).
A todos nós assiste, pois, a obrigação de testemunhar por nossa vida litúrgica, unida sempre mais estreitamente à Santa Missa e aos sacramentos, que o sangue de Cristo não é derramado em vão. Se Jesus Cristo, por amor de nós, se tornou “esposo de sangue” (Exod. 4,26) a alma devotas, eternamente reconhecida, nada deveria tanto ambicionar do que compartilhar das dores do divino esposo e acompanhá-lo como “esposa de sangue” no caminho doloroso do Calvário. Às sete efusões do sangue de Cristo, derramado: na Circuncisão, no horto das Oliveiras, na coluna da flagelação, na coroação de espinhos, no caminho da cruz, na crucifixão e na abertura do lado, são provas evidentes da sua amizade para com os homens. “In finem dilexit eos” – tendo amado os seus, que estavam no mundo, até o fim lhes dedicou extremado amor (Jo.13,1). Diz o profeta real: “O senhor é cheio de Misericórdia e nele há copiosa redenção” (Salmo 129). “Eu vim, dissera em vida, para que as ovelhas tenham vida e a tenham em abundância” (Jo. 10,10).
Mergulhando a nossa alma com freqüência no Sangue de Cristo: na Missa, na confissão e na comunhão, tornar-nos-emos semelhantes a Ele, sempre mais divinizados, amigos verdadeiros que fazem calar suas queixas de abandono: “Procurei quem se entristecesse comigo e não houve ninguém; busquei quem me consolasse e não encontrei ninguém” (Salmo 68).
“Divinum auxilium máneat semper nobíscum!” O divino auxílio seja sempre conosco. Amém. Esta pequena prece reza a Igreja depois da última hora canônica – Completório – já tendo terminado a recitação da antífona final em honra de Nossa Senhora. Li alhures que D. Bartolomeu dos Mártires, preclaro arcebispo de Braga, gostava de modo particular dessa prece – era-lhe oração suavíssima. O “divino no auxílio” era para ele o Sangue Preciosíssimo do Salvador. No ofício divino recitava a prece para que lhe fossem perdoadas todas as faltas cometidas durante a oração. No decorrer do dia, porém, repetia-a vezes sem número, recomendando todos os seus problemas, todas as suas preocupações de pastor de almas, ao Sangue de Cristo, preço de nossa salvação.
Se o Sangue divino fica sempre conosco: em nossa memória, em nossa alma, em nossa adoração e reparação, jamais nos faltará o auxílio divino. Seja, pois, esta prece, muito querida ao nosso coração e se este folheto conseguisse inflamar em uma só alma sequer ardente amor ao Sangue Precioso de Cristo, eu me daria por satisfeito e, eternamente, quisera em união com essa alma repetir, jubilosamente: “Divinum auxilium maneat semper nobíscum. Amém.” O divino auxílio permaneça sempre conosco. Amém[2].
[1] BUCKER, O. F. M., Frei Donato. Devoção ao Preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. 1969. Impresso na Oficina Gráfica Santuário de Aparecida, p. 5
[2] BUCKER, O. F. M., Frei Donato. Devoção ao Preciosíssimo sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo. 1969. Impresso na Oficina Gráfica Santuário de Aparecida, p. 8