As promessas, mas consoladoras de Nosso Senhor aos devotos servos do seu divino Coração são aquelas que se referem ao momento terrível da morte e a nossa salvação eterna[1].
Que quere dizer a grande promessa?
Entre as graças prometidas a devoção do Sagrado Coração é a mais extraordinária e ordinariamente conhecida com o nome da Grande promessa.
“Em um sexta feira”, escrevia a Santa, no mês de maio de 1688 durante a Sagrada Comunhão o meu divino Mestre disse-me estas palavras:
“Eu te prometo no excesso da misericórdia do meu Coração que o meu amor todo poderoso concederá a todos aqueles que comungarem na primeira sexta feira de nove meses consecutivos a graça da penitencia final; não morrerão no meu desagrado, nem sem receberem os sacramentos; nessa hora derradeira o meu Coração há de ser para eles asilo seguro”.
Promessa tão magnânima é verdadeiramente digna da generosidade do Coração de Jesus. Quão indesculpáveis seriam aqueles que pusessem de parte esta tábua de salvação oferecida pelo amor infinito deste Coração divino! Quis por essa infinita misericórdia que ela fosse acessível a todos, por causa dos tremendos perigos que corre no mundo a salvação eterna das almas, sobretudo no meio da sociedade atual. São tantos e tais, que podemos dizer com mais razão do que os Apóstolos: Quem se salvará? O Sagrado Coração dignou-se responder e a nós pertence aproveitar a resposta.
Posto que as palavras divinas dispensem comentários, não será inútil fazer alguns.
Será esta promessa um fato absolutamente novo?
Por mais extraordinária que pareça esta promessa, não é coisa nova. Graça semelhante não a tem também o Escapulário do Carmo?
Será certa esta promessa?
Esta promessa é certa, quanto à sua origem e quanto aos seus efeitos. Foi sem dúvida feita a Santa Margarida Maria, como atestam os escritos autênticos da serva de Deus, quando foram examinados pela Santa Sé na beatificação da Serva de Deus. Cumprir-se-á, portanto em todos aqueles que realizarem todas as condições impostas.
Como devemos entender esta promessa?
É preciso, todavia compreender o verdadeiro sentido desta promessa, e livrar-nos de falsa interpretação. Nosso Senhor não disse que aqueles que cumprissem as condições exigidas estavam dispensados de vigilância cuidadosa, para evitarem todo o pecado, de animoso combate, para vencerem as tentações de cumprir os mandamentos, do emprego assíduo dos meios que a vida cristã exige, sobretudo da oração e da penitência. Assegura somente, que aqueles que fizerem estas nove comunhões alcançarão as graças necessárias, para guardarem com perfeição os preceitos e os conselhos evangélicos, para levarem a cruz todos os dias da vida, e para perseverarem até à morte no caminho estreito, que conduz ao Céu.
O cuidadoso exame desta promessa deixa-nos antever a admirável tática do amor divino. Para ir ao Céu, é necessário que as nossas almas vivam da vida de Jesus Cristo, comunicada pelos sacramentos, sobretudo pelo sacramento da Eucaristia.
Há muitos séculos que os homens desertaram totalmente da Sagrada Mesa, e a maior parte daqueles que ainda se conservam fiéis à comunhão pascal, fazem-no por sistema e para que se diga que cumprem o preceito, de Comungar pela Páscoa da Ressurreição.
Por isso mesmo a sociedade cristã está minada por dentro de assustadora languidez espiritual, definha-se por falta de comunhões e ninguém a pode fazer sair deste mórbido estado.
Que meio irá Nosso Senhor empregar para tirar os homens deste invencível fastio tão vizinho da morte? Vai lançar mão do desejo, que estes cristãos tão negligentes ainda têm de se salvar, e com o auxílio desta última centelha escondida na cinza da tibieza vai procurar reanimar a chama do seu amor, fazendo-os enveredar pelo caminho da Sagrada Mesa. Não lhes pedirá diretamente a comunhão freqüente, porque sabe que a sua voz não seria ouvida; mas com tática divina vai pedir-lhes uma série de comunhões, em verdade transitória, mas bastante repetidas e acompanhadas de circunstâncias um tanto difíceis para, lhes formar o hábito da comunhão, ao menos mensal.
Quais são as condições necessárias, para ter direito aos frutos desta grande promessa?
Para alcançar a graça da perseverança final exigem-se três condições:
Estas condições, aparentemente fáceis, trazem anexas tais dificuldades, que é preciso amar verdadeiramente a Nosso Senhor para nos sujeitarmos a elas. Ora, diz Santo Agostinho: “Aquele que ama pode fazer o que quiser”. Ama et fac quod vis; porque o amor divino que o guia o meterá seguramente no caminho da santidade. Além disto estas comunhões repetidas, feitas por amor do Sagrado Coração, atraem poderosamente para se contrair este santo costume; porque não há coisa que torne um hábito tão forte, como os atos repetidos com verdadeiro afeto. Este atrativo será sem dúvida aumentado pela unção especial que Nosso Senhor concederá a estas comunhões.
[1] Santa Margarida Maria, O CORAÇÃO DE JESUS, p 257