Tribulações do coração! Ingratidão das criaturas! – Pe.MAtéo Grawley Boevey

Postado dia 02/09/2021

As almas. — Mestre divino, temos aberta no coração uma larga ferida: Não somos amados!

Na vossa providência permitis que as criaturas não nos amem, e vão dar o seu afeto a quem menos nos parece merecer-lho. Sentimos então a soledade do coração; e acende-se em nós uma sede, uma tortura, uma nostalgia de afeição mais forte, mais pura e fiel — da vossa. Que penosa angústia nos causa — Vós bem o sabeis — a frialdade e indiferença dos nossos! E tal mágoa não costuma vir só. Acompanha-a ordinariamente o rompimento de laços íntimos da família… A ingratidão é quase sempre a seiva amarga ou o fruto envenenado desta dor… Que necessidade imensa de amor não experimenta nesses momentos o nosso pobre coração asfixiado no imenso vácuo onde se encontra! E se, em tão aflitiva conjuntura, temos a infeliz idéia de bater à porta das criaturas, talvez as mais queridas, recebemos delas uma cruel mordedura, em vez do alívio que esperávamos. Procuramos em roda a ver se topamos um olhar de compaixão… Mas nada… o deserto morno do esquecimento… o silêncio… o completo abandono… E pensar a gente que ordinariamente não anda nisto — como sucedeu em Sexta-Feira santa — outra coisa, senão o mais vil interesse!… A cobiça do dinheiro!… A febre dos prazeres mundanos!…

Eis aqui, Senhor Jesus, alguns desses sequiosos de amor, chagados no coração… alguns apenas, pois deles a multidão é imensa.

Compadecei-Vos de nós! Compadecei-Vos de todos, ó Senhor!

(PAUSA)

Estas graves reflexões são uma preciosa lição. Cada lágrima, cada decepção, é uma chamada de Jesus, único Amigo fiel. A sua voz não engana. Escutemo-la, vinda do Tabernáculo.

Jesus. — A quem vindes vós, queixar-vos de faltas de amor?! A Mim?! Eis aí o meu Coração dilacerado! Não vos amam as criaturas? É que primeiro Me não amam a Mim. Conheço como ninguém, essa amargura. Tenho pena de vós. Sinto como ninguém pode sentir, a vossa angústia, mas vou dizer-vos uma palavra, que vos iluminará nas trevas com esplendor todo sobrenatural.

Ouvi:

Não vos lamenteis tanto de ingratidões. Como vos tendes vós portado comigo? Esquecem-vos! E vós não Me tendes esquecido para vos lembrardes por demais das criaturas? Roubam-vos o amor que vos devem?! E a Mim não Me tendes roubado o vosso que Me devíeis? Não tendes tentado arrebatar-Me o doutras criaturas, que a Mim só era devido?

O remédio para a vossa dor não é restituir-vos o amor delas. Nunca! É, sim, aproximardes-vos, pelo caminho do amor, ao vosso Criador.

Vinde, vinde a Mim, ó sequiosos do verdadeiro amor; as criaturas não podem satisfazer-vos. São assas mesquinhas de nobreza e generosidade!…

Vinde a Mim, e encontrareis no meu Coração as fontes perenes de verdadeiro amor… dando-Me vós o vosso…

Vós, que sofreis por não serdes amados, vinde e vede quanto mais profunda é a minha dor, quando Me recusais o dom que vos negam vossos irmãos.

Eu tenho sede dum amor inflamado.

(BREVE PAUSA)

Notemos aqui esta afirmação, que poderá parecer estranha, mesmo aos cristãos, isto é, que só Nosso Senhor tem direito a ser amado… Ditosa indiferença das criaturas para conosco, que compensa e repara a nossa para com Ele.

As almas. — Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que morrem À sede de amor. Fazei que Vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que sofrem a ferida duma afeição cortada cruelmente. Fazei que Vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que sofrem traições na amizade. Fazei que vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que sofrem a indiferença da família. Fazei que Vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que sofrem as amargas conseqüências dum amor culpado. Fazei que Vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que sofrem a horrível soledade do coração. Fazei que Vos amem cada vez mais.

Coração de Jesus, ferido de tristeza mortal, à míngua do nosso amor, ame-nos, apesar das nossas ingratidões. E amai, sobretudo os que nunca foram assas amados: os bons, os generosos, os melhores. Fazei que vos amem cada vez mais.

E para santificar os desenganos que recebemos das criaturas, para reparar tanto amor tíbio e estéril para convosco: Coração de Jesus, aumentai o nosso amor.

(Todos repetem as palavras em itálico).

Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Para santificar os desenganos que recebemos das criaturas, e reparar a indiferença dos crentes: Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Para santificar os desenganos que recebemos das criaturas, e reparar o esquecimento do grande número: Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Para santificar os desenganos que recebemos das criaturas, e reparar a falta de generosidade para convosco: Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Para santificar os desenganos que recebemos das criaturas, e reparar a vaga religiosidade de tantos católicos frouxos e remissos: Coração de Jesus, aumentai o nosso amor!

Coração de Jesus, aumentai o nosso amor! “( HORA SANTA , Doze Exercícios para a vigília , da primeira sexta-feira mais Sete para diversas circunstâncias pelo R. P. MATÉO GRAWLEI-BOEVEY dos Sagrados Corações (PICPUS) Primeira Tradução Portuguesa por P. Alexandre dos Santos, O. F. M. – Edição do “Boletim Mensal” Braga – 1928)